quinta-feira, 11 de janeiro de 2024

domingo, 13 de maio de 2018

Rua Âmbar





Rua Âmbar é um livro que, dentre outras coisas, celebra a imaginação poética. O menino Miro é quem puxa a alça da fantasia e promove as idas e vindas entre a realidade e o sonho. Ele inventa miniaturas de objetos a partir de latinhas recicláveis. 
Companheiras de infância do menino, as miniaturas, tal qual o seu inventor, têm a imaginação solta e dão voltas ao mundo até a mãe de Miro gritar: “Miroooo!”. Ao som do grito elas voltam para a caixa debaixo da cama até a próxima rodada de conversas e histórias que o menino irá  promover.
Há um bule que já morou no fundo do mar, um jarro que vivia bordado em uma cortina, uma concha que foi um  pensamento do Miro que caiu no mar e virou concha, uma mala que pertenceu a um colecionador de sombras, a um pesquisador de suspiros de jardim, a um capturador e assoprador de palavras, dentre outros donos ( a mala nunca carregou roupas).
Na hora em que Miro enfrenta a perda do pai, em um naufrágio no alto-mar, as miniaturas participam como coadjuvantes simbólicas na elaboração do sofrimento e da saudade do menino.
As miniaturas são apenas uma parte das vivências mágicas do livro. Miro mora na Rua Ametista, porém, sua rua preferida é a Âmbar.
A  Âmbar tem as frutas mais doces do bairro, a casa assombrada onde moram a tainha, a cobra que passa a vida se transfomando em “outros” para fazer a experiência da outridade, a formiga que queria cantar como uma cigarra, a rã que queria namorar um cachorro,  e a bruxa da costa esmeralda – uma bruxa diferente e  no exercício pleno de sua bruxidade.  Também ficam na Âmbar  a casa 109, dos amigos Quin, Isa e Matita, e  a casa creme da moça que ajudou Miro a se alfabetizar.
Rua Âmbar é uma história de pertencimento e memória. Miro poderá se mudar de Mariscal, um dia, mas levará a Âmbar para onde for. Será sempre o chão sagrado que ele vai pisar para sempre, pois, levamos as ruas, as casas, as paisagens de nossa infância para onde quer que  formos.
                                                                                                  

"Cara escritora,
Li Rua Âmbar numa tacada. Como fiz com outros livros seus. É porque seus livros tem uma linguagem que cativa e dá vontade de ler. E tem uma coisa: há uma energia boa fluindo nas suas páginas. Uma energia que eleva e faz bem ao coração. Só nos livros de Lobato eu encontro essa energia que tem nos teus livros, Eloí.  Acho que você, com sua linguagem, abriga, acolhe, junta coisas quebradas dentro de nós.  Não sei explicar bem como isso funciona, mas sinto assim.  Parabéns por mais esta obra bela. Sempre vou me lembrar de Miro e de sua rua preferida”. 

Zélia Gomes da Silva
Curitiba/PR

E-mail de 23/10/2013


quinta-feira, 24 de março de 2016

Livro da Semana: Rua Âmbar

Livro da Semana | Rua Âmbar







Rua Âmbar

O livro de Eloí Bocheco, Rua Âmbar, da editora Formato, com ilustrações de Márcia Cardeal, é um livro sensível, poético, que fala com simplicidade de um menino que coleciona "coisas" e, a partir delas, cria outras. Latinhas de refrigerante e de sucos vazias se transformam em bules, jarras, miniaturas de carrinhos que preenchem sua vida e não servem para ser usadas, mas existem para ele poder brincar e inventar vida nova com bule que fala e jarra que responde.
Mas que o chamado da realidade faz calar os personagens.

O livro celebra a infância em uma rua com nome de pedra e outras ruas paralelas com nome de pedra também, onde faz o leitor ouvir ao longe, na sua leitura do texto, a cantiga popular ... "se essa rua fosse minha eu mandava ladrilhar com pedrinhas de brilhante para o meu amor passar."
Miro, o personagem principal, menino simples, mora perto da praia, o pai é pescador e diz que é um homem do mar e deve ter sido peixe em outra vida, o menino acha graça sua alma também é como a do pai, que em um naufrágio em alto-mar sai da vida do filho. 

Com palavras simples o texto fala da amizade, das perdas, de casa mal assombrada com bruxa e rã que quer namorar cachorro. Os amigos do verão são passageiros, mas ficarão nas lembranças do menino, que mesmo crescendo, levará com ele para sempre.

Lúcia Fidalgo  - escritora, contadora de histórias, professora da UFRJ, 
pesquisadora da Cátedra Unesco de Leitura.



Site da CÁTEDRA:

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Na alça da fantasia...



                                                                                    Il. de Márcia Cardeal


   Miro – Valdomiro Silveira –  é dono de uma fábrica de miniaturas, feitas com latinhas recicláveis. A fábrica toda cabe em duas caixas, que o menino guarda embaixo da cama. Inventar as miniaturas,  a partir das latinhas, é uma grande felicidade para Miro. Ele é  capaz de passar horas trabalhando nas peças para deixá-las irretocáveis.
Num segundo movimento de criação, ele  promove o  encantamento das miniaturas. Com o sopro da imaginação, anima os objetos criados e lhes imprime vida própria. De posse dessa vida poética, as  miniaturas conversam e tramam histórias sobre si mesmas e sobre seu criador.
Há um bule que já morou no fundo do mar, um jarro que vivia bordado em uma cortina, uma concha que foi um  pensamento do Miro que caiu no mar e virou concha, uma mala que pertenceu a um colecionador de sombras, a um pesquisador de suspiros de jardim,  a um capturador e assoprador de palavras, dentre outros donos ( a mala só não carregou roupas).
Na hora em que Miro enfrenta a perda do pai, em um naufrágio no alto-mar, as miniaturas participam como coadjuvantes simbólicas na elaboração do sofrimento e da saudade do menino.
As conversas entre as miniaturas sempre são interrompidas pelo grito da realidade que  vem por meio da mãe, chamando-o para as lidas do cotidiano : “Mirooooo, desça, o café tá na mesa!” “Miroooo, venha ajudar seu pai”... Miroooo, fiz queijadinha...” Mirooooo, teus amigos estão aqui!”...
As miniaturas são apenas uma parte das vivências mágicas do livro. Miro mora na Rua Ametista, porém, a rua preferida dele  é a Âmbar.
A  Âmbar tem as frutas mais doces do bairro, a casa assombrada onde moram a tainha, a cobra que passa a vida se transfomando em “outros” para fazer a experiência da outridade, a formiga que queria cantar como uma cigarra, a rã que queria namorar um cachorro,  e a bruxa da costa esmeralda – uma bruxa diferente e  no exercício pleno de sua bruxidade.  Também ficam na Âmbar  a casa 109, dos amigos Quin, Isa e Matita, e  a casa creme da moça que ajudou Miro a se alfabetizar.
Rua Âmbar é uma história de pertencimento e memória.  Miro poderá se mudar de Mariscal, um dia, mas levará a Âmbar para onde for. Será sempre o chão sagrado que ele vai pisar para sempre, “pois levamos as ruas, as casas, as paisagens de nossa infância para onde quer que  formos”. 



sexta-feira, 14 de março de 2014

Rua Âmbar no Projeto Milagre das Letras



"Gostei muito desse livro, não queria nem que ele acabasse de tão bom que ele é. A Rua Âmbar era cheia de mistérios e surpresas muito legais. E também gostei da fábrica de Miro, da casa do poço, da casa 109, gostei de tudo muito bom."
Dayane Marques  - São Gonçalo RJ

sábado, 11 de janeiro de 2014

Rua Âmbar no Diário Catarinense (Florianópolis/SC)


Rua Âmbar no Diário Catarinense de 11/01/2014
Breve ensaio do Professor Fabiano Tadeu Grazioli  



Afeto, aventura e amizade na Literatura Infantojuvenil catarinense

Fabiano Tadeu Grazioli[1]

Rua Âmbar (Formato, 2013) é a publicação infantojuvenil mais recente da escritora catarinense Eloí Bocheco. Na trilha dos últimos Casa de Consertos (Melhoramentos, 2012), Tua mão na minha (Habilis, 2012) e Cantorias de Jardim (Paulinas, 2012), o livro é bem cuidado, com ilustrações primorosas de Márcia Cardeal e um projeto gráfico adequado.

A história é dividida em treze capítulos, numerados e não titulados e se desenvolve em Mariscal, praia catarinense. Eloí recolhe elementos do dia-a-dia do lugar (ruas da referida praia,  detalhes da vida dos pescadores, dos moradores, dos veranistas) e os utiliza como peças importantes no esquema narrativo que monta.

Miro, ou melhor, Valdomiro Silveira, o protagonista da história é um menino que vive a infância com intensidade.  Quando se apresenta aos amigos veranistas diz que “o pai é Leopoldo e trabalha na pesca, a mãe é Inês e vende peixes, que mora na rua Ametista, estuda no terceiro ano, adora a rua Âmbar e faz miniaturas de latinhas” (p. 34).

Mas o que significa viver a infância com intensidade, no caso de um menino filho de família simples, e quase sem amigos? Significa ter tempo e espaço para brincar. Os pais de Miro têm noção da importância que o brincar criativo tem na vida do menino. Isso fica evidente em vários episódios da história, mas, em especial, no capítulo quatro, quando Miro abandona o trabalho de limpar peixes e sai, a mando do pai para brincar: “Em geral o pai lhe dá uma tainha e uma anchova para limpar, às vezes, dois ou três peixes pequenos. Em seguida diz que já pode ir brincar” (p.9); e quando a mãe compara o brincar ao trabalho das abelhas: “- Olhe ali as abelhas no canteiro de cravinas, colhendo néctar. Criança brincando é abelha colhendo néctar. Brincadeira é néctar armazenado na alma”(p.9). Os pais de Miro, ao compreenderem a importância do brincar na vida do filho oferecem ao menino o ambiente facilitador para a brincadeira. Proporcionar tal ambiente é, para Marina Marcondes Machado (2004), função dos adultos em relação às crianças.

O espaço que o menino possui para brincar é a própria Mariscal, com suas ruas, casas, árvores, areia e mar. O personagem transita livremente pelos vários lugares da praia. Leopoldo e Inês compreendem que “uma criança livre, feliz, brinca quando come, sonha, quando faz seus pequenos discursos poéticos” (MACHADO, 2004, p. 19).

Quem acompanha a narrativa de Eloí percebe que brincar é produzir, fabricar, criar, e que essas experiências tornam lúdico o olhar de Miro para o mundo. É a partir deste olhar que o menino filtra a vida que lhe cerca.

Já no início da história, o leitor é informado que Miro possui uma habilidade interessante: fabrica miniaturas de objetos com latinhas de refrigerante. A “fábrica”, como são chamadas as duas caixas de madeira onde guarda seus materiais fica “localizada em um endereço de acesso restrito. E mais, Miro dorme em cima da fábrica. Ou melhor dizendo, ele dorme e acorda em cima dela, por que ela fica debaixo da cama dele” (p. 5). A imaginação de Miro somada à força do maravilhoso na história, resulta em cenas nas quais, curiosamente, os objetos guardados embaixo da cama conversam.

Catar e saborear pitangas pretas é uma das atividades preferidas do menino. Mas sabe que deve se apropriar somente das que ficam do lado de fora dos muros das casas. Ensinamento do pai Leopoldo, por quem Miro tem carinho e afeto especial.  Miro admira o pai pescador, ao mesmo tempo que lamenta a vida sofrida que ele leva:

“-Por que não larga a vida no mar e vai fazer outra coisa, pai?
- Sou um homem do mar. Devo ter sido peixe em outra vida.
(...)
- Você nunca passeia, nunca se diverte, pai.
- Minha diversão é por meu barco no mar.
- Mas por causa do sol e da água salgada seu rosto está todo franzido.
- Filhos do mar, feito eu, ficam assim mesmo, Miro (p. 12).

O protagonista não deseja ser pescador como o pai. Mas possui “alma de peixe”, como ele, e por isso projeta para si uma profissão parecida:

 “- Quero trabalhar no mar, mas não como pescador. Quero ser um pesquisador, um estudioso de tudo o que existe no fundo do mar.
- Gostei dessa ideia.
- Aí eu também serei um homem do mar feito você” (p. 12).
             
É na Rua Âmbar que grande parte da história acontece. Os melhores pés de frutas estão na Âmbar. A casa do poço, a mais misteriosa da região, também. Trata-se de uma casa abandonada, que Miro tentou conhecer três vezes e só na quarta vez teve coragem suficiente para entrar. Em um quarto encontrou uma formiga ruiva falante, que por sinal, já conhecia sua fábrica. No outro quarto encontrou um armário de onde saiu uma cobra azul-turquesa. Conversando com a cobra ficou sabendo que ela tinha nascido gaivota e se transformado em galho de árvore, pedra, chapéu, carta de baralho... No terceiro quarto encontrou uma tainha com lindas escamas reluzentes. Em seu cesto a tainha guardava miniaturas de lata que haviam sumido do quarto de Miro. “Disseram que foram dar uma volta na Rua Âmbar e não acharam mais o caminho de volta” (p. 23), explicou a tainha. Saindo da casa, Miro encontra uma bruxa da Costa Esmeralda que veio buscar água do poço para seus trabalhos de magia.

A narrativa de Eloí lembra o mestre Lobato, já que a autora anula as fronteiras entre a vida real, conhecida de perto pelo leitor, e o espaço do maravilhoso, que é próprio da Literatura para crianças.  Sobre essa ocorrência em Lobato, Nelly Novas Coelho afirma: “Suas histórias não decorrem em nenhum reino maravilhoso, fora do tempo e espaço históricos (...). Pelo contrário, todas as situações que estruturam as efabulações de cada livro radicam-se no mundo cotidiano, familiar ao dia-a-dia da meninada” (2006, p. 642). Neste ambiente conhecido e comum, “surge, de repente, um elemento estranho, pertencente ao reino do imaginário, do sonho ou da fantasia. Mas devido à naturalidade com que esse elemento estranho passa a integrar o natural, ambos se igualam ou se identificam como possibilidade de existência (2006, p. 642).

Em Rua Âmbar, Eloí se utiliza do mesmo recurso.  As miniaturas de latinha e demais objetos que conversam entre si; a formiga-ruiva e a tainha de lindas escamas, ambas falantes; a cobra azul turquesa que se transforma no que quiser; a bruxa da Costa Esmeralda, entre outros elementos, são próprios da fantasia, surgem naturalmente na história e se somam aos eventos cotidianos vivenciados por Miro, promovendo a fusão entre mundo real e imaginário.
É na Rua Ambar que Miro conhece os únicos amigos com quem ele vai se relacionar na história: Matita, Quim e Isa. São veranistas, moram em Jundiaí/SP e o pai deles comprou a casa 109. Os quatro vivem aventuras ciceroneados por Miro, que lhes apresenta a rua e  a casa do poço.

A notícia da morte de seu Leopoldo pegou todos de surpresa. “O barco bateu nas pedras e afundou. Ninguém escapou” (p. 46). Miro sofre muito com a partida do pai. E agora, como iria ser? E quando os peixes da peixaria acabassem, o que a mãe faria? ‘’Se ela dizia que ia dar um jeito, então é porque ia mesmo. Ela era uma mulher de confiança” (p. 48).

No último dia do veraneio de seus amigos, Miro é convidado por eles para plantar um pé de ingá no pátio da casa 109. A árvore era uma homenagem a Seu Leopoldo. Miro imagina que o pai ia gostar da homenagem. Ele se deu conta de que, curtido de sol e da água salgada do mar, o pai fora se tornando parecido com um tronco de árvore. No dia seguinte, após o café, o protagonista vai até a casa dos amigos para se despedir. Presenteou-os com um barquinho, um jarro de lata e uma estrela do mar. Voltariam no próximo janeiro, e isso deixava Miro feliz.

Na obra em questão, conhecemos uma Eloí diferente daquela que diversas vezes já encontramos, cuja matéria prima para a criação literária são as memórias da infância. Em Rua Âmbar, Eloí se mostra capaz de mergulhar na infância dos meninos da atualidade e de utilizar elementos que não lhe cercaram na sua época de criança, como a praia, o mundo dos pescadores e a vida dos veranistas. Mas não deixa de emprestar a Miro o olho da menina curiosa e atenta que imagino que ela foi e que ainda é. Aos olhos de Miro, nada passa despercebido na Rua Âmbar, qualquer novidade é notada, por mais miúda que seja.

O texto da obra é fluente e com linguagem acessível a partir do Leitor em Processo. Leitura envolvente. Desejo que muitos leitores encontrem com Miro e passeiem pela Rua Âmbar. Nas escolas, nas bibliotecas, nas rodas de leitura, nas sessões de leitura literária nas escolas, enfim, onde estiverem leitores curiosos e sensíveis, ali Rua Âmbar pode figurar com majestade.  

Referências
MACHADO, Marina Marcondes. A poética do brincar. São Paulo: Loyola, 2004.
COELHO, Nelly Novaes. Dicionário crítico da literatura infantil/juvenil brasileira. São Paulo: Editora Nacional, 2006.



[1] Mestre em Estudos Literários. Professor de Literatura Infantojuvenil da Faculdade Anglicana de Erechim/RS.